2008/11/24

Abe Vigoda

Quente

Abe Vigoda apesar de ser um actor, já com uma impressionante e longa carreira, é quase desconhecido do grande publico, isto porque a sua vida tem sido feita de pequenos e inócuos papeis. É o que se pode chamar de um actor de terceira fila, ficando longe do star-system e de tudo o que significa a palavra vedetismo. É com embutidos neste espírito que 4 amigos californianos o decidem homenagear, fundando uma banda com o seu nome. Os Abe Vigoda nascem da experiencia e da fusão de duas bandas (Health e Mika Miko) e da sua capacidade de união do pos-punk de Los Angels, com aquela corrente afro-pop tão característica dos Animal Collective, aqui e ali condensada pela agradável destruição dos No Age ou até mesmo sucumbido aos encantos aleatórios de uns Battles.
A segunda amostra dos Abe Vigoda responde pelo nome de Skeleton, 14 curtos mas intensos temas (apenas 34 minutos de duração), tudo emerge de uma forma quase alucinante, o mote primário são suaves e quentes batidas africanas, criando ritmos hipnóticos e redondos, a isto une-se as vozes cruzadas (e as guitarras) de Juan Velazquez e de Michael Vidal criando um complemento de profundidade. Poderá não parecer, mas Skeleton é um disco cativante e altamente sedutor, perfeito para aquecer as noites frias de Inverno, um dos grandes discos de 2008.

Momento Mágico: The Garden


Abe VigodaSkeleton (2008) - Post Present Medium


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2008/11/18

Miles Benjamin Anthony Robinson

Viva Brooklyn

O Brooklyn debita música e músicos de uma qualidade impressionante, Miles Benjamim Anthony Robinson é mais um dos seus habitantes, que larga o sossego do seu lar, para partir á conquista do mundo indie. Este “singer/writer” lança o seu primeiro álbum em nome próprio, um disco de uma intensidade sublime, marcado por pequenas histórias de encontros e desencontros, amores perdidos e substituídos, cheio de alegrias e tristezas alcançadas. O clima desenvolvido pela musica de Miles Benjamin Anthony Robinson, anda abraçado às mesmas ambiências temporais da música de uns Arcade Fire, de uns TV On The Radio ou dos Grizzly Bear (que são convidados especiais no disco). Miles Benjamin Anthony Robinson desenvolve quase toda a sua musica, tendo como base o contexto mais simples da folk (pequenas histórias musicadas), a grande diferença surge na forma como vai enchendo o espaço em volta do tema, ao contrário da tipificação folk, Miles Benjamin Anthony Robinson desenha esboços de contornos profundamente indie.
Logo á primeira, Miles Benjamin Anthony Robinson consegue assinar, um dos melhores álbuns de 2008, uma obra bem pensada, bem construída e excelentemente produzida, 10 temas equilibrados e que se completam uns aos outros. “Buriedfed” é a perfeita afirmação de tudo o que se disse; “Woodfriend” é um tema primoroso, com uma cadência perfeita, voz e bateria sempre num impecável encaixe, apenas quebrado aqui e ali por uma guitarra em desespero; “Who's Laughing” não passa de pura simplicidade folk-rock.
Miles Benjamin Anthony Robinson consegue atingir com a sua música, um patamar muito elevado, se neste raciocínio se tomar em consideração que é a sua primeira obra, a atenção lhe devemos dar no futuro, toma uma importância quase vital. Se agora o resultado é excelente, poderemos muito breve ter obra-prima (ou talvez não).

Momento Mágico: The Ongoing Debate Concering Past Vs. Future


Miles Benjamin Anthony RobinsonMiles Benjamin Anthony Robinson (2008) - Say Hey


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2008/11/12

Fleet Foxes

Debutantes

Os Fleet Foxes marcam o território com a sua carga harmónica e melódica, e fazem-no de forma a deixarem na área, um aroma folk pop que irá perdurar durante alguns anos. A banda de Seattle (Washington) liderada por Robin Pecknold, espreitava a sua oportunidade para se dar a conhecer ao mundo e é assim que surge no inicio do ano o EP Summer Giant, cinco delicodoces temas, onde o mundo pop é completamente florido e as vozes libertam mais cores que a primavera. Com o caminho pré-desenhado, contrataram Phil Ekque um produtor especialista nesta coisa da pop, que trabalhou anteriormente com The Shins e Modest Mouse e assim cozinharam o primeiro álbum. Fleet Foxes by Fleet Foxes é um disco engenhoso, é folk que soa a pop e pop que soa a folk e isto que não traduza a ideia de álbum complexo, porque na realidade não o é.
Fleet Foxes é um disco fortemente disciplinado e regido por regras bem definidas, e isso está perfeitamente patente logo no primeiro tema, “Sun It Rises” é abertura ideal, “Ragged Wood” mostra em completo todas as suas capacidades, edificando um tema onde poderiam estar os Band Of Horses ou mesmo uns Mountain Goats. “Tiger Mountain Peasant Song” é um jogo entre a bela voz de Pecknold e um ameno dedilhado de guitarra. “Quiet Houses”, “Your Protector” e “Blue Ridge Mountains” respiram contemporaneidade, são produtos perfeitamente frescos, sem prazo de validade e sem conservantes. Fleet Foxes será certamente um dos albuns debutantes do ano.

Momento Mágico: He Doesn't Know Why


Fleet Foxes - Fleet Foxes (2008) – Sub Pop


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2008/11/05

Peter Broderick

Lar Doce Lar

O incrível potencial de Peter Broderick, fica perfeitamente demonstrado, assim que pelos nossos ouvidos passam, os 3 primeiros temas do seu último trabalho. Aos 21 anos este americano de Portland (Oregon), abandona o seu lar e parte a caminho da Europa, indo-se fixar na calma e bela Copenhaga, aí trava amizade com os experimentalistas-ambientais Efterklang e passa a fazer parte do projecto.
Home é a sua mais recente residência, uma construção repleta de pequenos quartos deliciosamente decorados, espaços confortáveis e amplas áreas apinhadas de luz. Na casa de Broderick não há lugares vazios, tudo reflecte sobriedade, cores suaves e materiais de primeira qualidade. Seria de esperar que, com tão elevados padrões de qualidade, o seu trabalho se pudesse transformar em algo de difícil digestão, mas o efeito foi precisamente o oposto, Home é uma peça pop de uma sensibilidade extrema, carregando uma franqueza e uma sinceridade de simples contornos.
Home é o lar a que todos queremos chegar ao fim do dia, precisamos dele para descansar, para restaurar energias, enfim todos nós necessitamos de uma casa para repor a ordem natural da coisas.

Momento Mágico: And It's Alright


Peter BroderickHome (2008) - Hush


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2008/11/01

Wintersleep

Chegou o Inverno

A mudança de hora provoca em todos nós, pequenas disfunções temporais. A passagem do Verão para o Inverno (já por si dura) é mais intensa, quando surge a correspondente mudança horária, os dias ficam mais curtos, é noite mais cedo, surge o frio, enfim emerge um “novo mundo” e com ele, novos hábitos, novos rituais. O Wintersleep são isto tudo, mas em formato musical. Povoando o mesmo universo dos Interpol, os Wintersleep criam um universo luminoso, onde a estrutura emocional passeia entre a simples canção e a estrutura mais complexa de um quase space-pop. Ao terceiro disco, estes canadianos da Nova Escócia, delimitam as fronteiras do seu território, a sua melancolia pop e o seu rock inocente, resultam num perfeito indie rock volátil.
Se “Miasmal Smoke & The Yellow Bellied Freaks”, encerra o álbum a piscar o olho a uns Mogwai, fazendo de uma forma impressionante, o que só prova a sua coragem e a sua valentia. A abertura do Welcome To The Night Sky, faz-se ao som “Drunk on Aluminum” um principado rock de linhagem real, repleto de guitarras e bateria a cheirar a shoegaze. Se “Archaeologists” habitam uns Editors, em “Astronaut” vivem os R.E.M.. “Dead Letter & The Infinite Yes” é provavelmente o melhor tema de todo o disco, e penso que deve ser por este caminho que os Wintersleep devem pautar os seus passos.
É muito provável que Welcome To The Night Sky, passe completamente despercebido do grande (e do pequeno) publico, ainda assim é um trabalho com 10 brilhantes temas indie pop de perfeita digestão, não arrebata, mas também não provoca indiferença.

Momento Mágico: Weighty Ghost


WintersleepWelcome To The Night Sky (2008) – Labwork


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