2008/09/30

The War On Drugs

Dois Tons

Os The War On Drugs nasceram em Philadelphia, Pennsylvania em 2003, encostados e apoiados no estilo folk de Dylan e pilhando o rock mais tradicional de Springsteen, formaram um banda de electro-americana. A introdução de guitarras planantes e riffs experimentais, tão típicas das bandas nova-iorquinas, veio contribuir para que banda partisse numa direcção deveras interessante, não se tendo auto-limitado, nem tendo ficado prisioneira de um estilo ou género. Wagonwheel Blues é um disco bipolar, transmite a quietude da pradaria americana e ao mesmo tempo inunda o espaço envolvente com as luzes intermitentes do neons da cidade. É urbano e rural e servindo-se dessa dicotomia auto-promove-se, deixando um rasto de curiosidade como se fosse um inebriante perfume.
A abertura de Wagonwheel Blues é feita com “Arms Like Boulders” no mais perfeito estilo folk-dyliano, sem pretensões ou ilusões; “Coast Reprise” tem um toque shoe-gaze quase primário, que faz o tema pairar, compondo um efeito delicioso; Os acordes de “There Is No Emergency” fazem desta canção uma auto-estrada de puro prazer; A pura diversão de “Show Me The Coast”, um longo tema que desperta no intimo de quem a ouve, a necessidade da chegada.
The War On Drugs lançam assim o seu primeiro grito e com isto, partem á procura de uma América a duas cores. Sendo que um dos tons (o mais escuro) é tradicional, nasceu nos campos, carrega aos ombros um passado de sofrimento e dor, em oposição temos o outro tom (o mais claro) citadino, contemporâneo, descomprometido, sem objectivo concreto á vista.

Momento Mágico: There Is No Emergency


The War On Drugs - Wagonwheel Blues (2008) - Secretly Canadian


The War On Drugs (site) & MySpace


2008/09/25

Neon Neon

Refazer

O regresso ao passado é uma imagem permanente no universo sonoro, a necessidade de retorno ás origens, o recurso á simplicidade da estrutura musical, a saudade da electro-pop ou até mesmo o renascer do stylish-funk. Os Neon Neon projecto de Gruff Rhys (o guru da banda do País de Gales - Super Furry Animals) e de Boom Bip (um multi-instrumentista de Cincinnati, ligado à criação e produção de Hip-Hop e Rap), captam todo o espírito do anterior referido. Sulcando trilhos melódicos a meio caminho, entre a pop dos anos 80 e os sons contemporâneos de semblante mais urbano, fabricaram um disco feito de lantejoulas, sintetizadores e saltos altos.
Dentro de Stainless Style há uma imensidão de gestos e trejeitos de outras bandas, aliás não poderia ser de outra forma, os idos anos 80 foram (e serão) explorados até á mais ínfimo pormenor. É desta forma fortemente emocional e disparando em todas as direcções, que os Neon Neon fizeram de Stainless Style um passeio de imensos tons e cores. O deslumbre electrónico de “Neon Theme”, a colagem a The Cars em “I Told Her on Alderaan”, a alegre festividade de “Raquel”, o piscar de olhos funk em “I Lust U”, a perfeita textura electro em “Michael Douglas”.
Os Neon Neon não descobriram nada de novo, mas para além de se verificar que a fonte ainda não está completamente seca, é com imenso prazer que se descobre, que ainda é possível fazer e refazer uma época em grande estilo.


Momento Mágico: Belfast


Neon NeonStainless Style (2008) - Lex


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2008/09/20

Mystery Jets

Outros...

O charme libertado pela voz de Blaine Harrison, é intenso e fica a pairar no ar como se de um perfume se tratasse, tem uma marca própria, um timbre característico. Os Mystery Jets foram formados em Eel Pie Island (uma ilha do rio Tamisa) e foi nesse meio semi-isolado, que começaram a modelar a sua carreira. Ao conceberem Making Dens (2006) e Zootime (2007) os Mystery Jets superaram o difícil inicio de carreira com distinção, moldando assim dois álbuns de pop/rock bastante competentes. Com uma média acima da média e ano após ano, chega Twenty One e com ele, os Mystery Jets mostram estar num beco sem saída, a criatividade entra em ciclo repetitivo e não se constrói nada de novo, mas o que para muitas bandas é problema complicado, para outras não apresenta qualquer tipo de dificuldade.
Apoiados no produtor Erol Alkan, os Mystery Jets planearam um disco brilhante, agarraram o poder que a produção cuidada hoje tem e criaram uma boa quantidade de notáveis canções: “Young Love” (Ft. Laura Marling); Half In Love With Elizabeth; “Flakes”; “Two Doors Down” ou “Hand Me Down”.
A sonoridade dos Mystery Jets nasce do cruzamento de bandas dos 80’s e dos anos 00’s, misture-se bandas como os ABC, Talk Talk e bandas The Killers, Franz Ferdinand ou The Futurheads e aí está um som perfeitamente pop-rock, aliás o segredo dos Mystery Jets e deste novo trabalho, reside fundamentalmente na não formatação da banda, os temas vão surgindo uns atrás dos outros, sem grandes regras, sem grandes complexos, musica pelo simples prazer de o ser.
Os Mystery Jets não são nem pretendem ser, melhores que os outros, apenas se propõem a ser mais uns e se há muita gente que vê nisso um defeito, existe muito boa gente que interpreta esse dado como banal e corriqueiro, um direito perfeitamente legitimo que qualquer criador de musica tem.

Momento Mágico: Flakes


Mystery JetsTwenty One (2008) - Warner


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2008/09/15

Ane Brun

Desconhecida?

Ao terceiro disco de originais, Ane Brun tem que desaparecer do anonimato. A musica por si criada tem de ser conhecida pela multidão, há que a catapultar para o meio do povo. Ane Brun faz a sua musica parecer uma suave e calma onda, há uma constante quietude, uma perfeita bonança. Com ajuda de um piano e de uma guitarra acústica e recorrendo ainda a minúsculos arranjos de cordas, Ane Brun vai delimitando a sua área de acção.
Ane Brun nasceu na Noruega, mas vive já há alguns anos na Suécia e é das terras frias do norte, que esta songwriter vai arquitectando as suas doces melodias, formando temas de intensidade pop, sem nunca descorar o lado mais folk da vida. Há nos seus temas a intenção de marcar ritmos e cadências, como se toda a lógica musical fosse um simples caminho de terra batida, onde pouca gente passa e onde os arbustos e as demais ervas, vão conquistando terreno. Tudo é perfeitamente natural e inato, de nada serve estar com grandiosas eloquências, porque tudo regressa ao seu estado primário.
Treehouse Song” é a apresentação de Changing Of The Seasons e surge como uma sensível combinação de folk com pop de cariz rural, onde o ritmo lembra quase um ambiente country; a forma dedilhada e o piano triste de “Fall” surgem no horizonte, da mesma forma que o dia vai desaparecendo, vai ficar escuro, vai todo terminar, vai todo cair; “Puzzles” são fragmentos espalhados numa mesa e a tentativa frustrada da sua construção; “Ten Seconds” é pureza pop, decalque de voz, ladeada por um constante coro de vozes, enriquecido por uma imensidão de cordas.
Changing Of The Seasons é talvez a forma mais eficaz de ficar a conhecer Ane Brun, uma voz misteriosa de contornor cristalinos, um álbum de uma invulgar simplicidade, transmitindo do primeiro ao ultimo tema, uma invulgar paz de espírito.

Momento Mágico: Armour


Ane Brun - Changing Of The Seasons (2008) - Det Er Mine


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2008/09/09

Air France

Algures

Quando ouço falar da Suécia ou melhor, quando relaciono musica e Suécia na mesma frase, o que me surge de imediato na mente, é a palavra pop. Pode não ter nascido lá, mas foi por essas paragens, que a palavra pop-music atingiu o seu expoente máximo, sim refiro-me obviamente aos ABBA. Depois dessa explosão, não deve haver um único musico seco, que não tenha perdido o receio, de desenhar linhas pop ou construir harmonias perfeitamente solarengas. Aliados a uma forte componente electrónica, os Air France banda que nos chega de Gotemburgo, partem de um universo quase mítico, um mundo povoado por seres de várias cores e feitios.
No Way Down [EP] é o segundo trabalho dos Air France, composto por apenas 6 temas, a banda dá passos concretos e seguros, não pretende arriscar em demasia, sustenta a sua musica num electro-pop atmosférico, auxiliado por uma imensidão de samplers, vai criando pequenas bandas sonoras para curtas metragens imaginárias. “Maundy Thursday” usa cadências resplandecentes, transpira luz por todo o lado; “June Evenings” traz consigo o ambiente cosmopolita de ténues iluminações, é perfeita descrição de um ideal fim de tarde; “Collapsing At Your Doorstep” surge como um tema festivo, como se alguma coisa estivesse para nascer, é a preparação de algo que irá ser muito bom á posterior; em “No Excuses” as guitarras saltitantes vivem como se fossem uma pequena brisa, uma suave e quente aragem, é uma imensidão de sensações, lindíssimo.
No Way Down [EP] é perfeito na sua curta dimensão, é todo demasiado delicioso, não dando qualquer hipótese ao aborrecimento, funciona como um elo de ligação entre o actual momento e um local onde qualquer um de nós gostaria de viver.

Momento Mágico: No Excuses


Air FranceNo Way Down [EP] (2008) - Sincerely Yours


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2008/09/05

The Black Keys

Em Crescendo

O velho e sujo garage rock está de volta. Na verdade não andou desaparecido, enquanto vagueávamos pelas outras divisões do palácio, os Black Keys andavam a ler o manual, que alguém deixou esquecido na prateleira dos fundos. Com o The Big Come Up (2002), dá-se inicio ao projecto, apoiados no lado mais negro do blues, traçam um objectivo concreto, desenhar uma estrutura em duo e partirem de encontro ao lado mais cru da coisa. Auerbach (guitarra/voz) e Carney (bateria) definiram assim de uma única assentada o seu objectivo, fazer da simplicidade musica. Seguiram-se Thickfreakness (2003), Rubber Factory (2004) e Magic Potion (2006), sempre com o objectivo de cortês de marcarem um estado de alma, aperfeiçoando o mundo á sua volta, traduzindo em notas de musica a energia e o vigor que percorre as veias de ambos.
É com este engenho que chegam a 2008 e é assim que nasce Attack And Release. O novo álbum de Black Keys, é o mais apurado de todos os seus trabalhos, está perfeitamente lapidado, foi intensamente pensado, está mais dormente, bastante mais comedido e controlado, isto deve-se fundamentalmente ao mão mágica de Dangermouse.
Attack And Release vive para além do simples duelo entre dois músicos, é mais do que isso, os The Black Keys cresceram e é muito provável que nem tenham reparado e ao afastarem-se um pouco do produto original, souberam conquistar um espaço que é seu por direito. Tudo o resto é uma deliciosa e redonda mão cheia, de temas repletos de electricidade estática, a saber: “All You Ever Wanted”; “I Got Mine”; “Strange Times”; “Remember When (Side A)”; “Oceans And Streams”.

Momento Mágico: Things Aint Like They Used To Be

The Black Keys - Attack And Release (2008) – Nonesuch


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2008/09/01

The Black Angels

Saudável Repetição

O regresso á distorção equilibrada e ponderada, faz-se ao som Directions To Seek A Ghost o mais recente álbum de The Black Angels. Em Passover o excesso de riffs e as constantes deformações sonoras das guitarras, aproximam a banda de nomes como Jesus & The Mary Chain, Dinosaur Jr. ou até mesmo de uns Spacemen 3, com Directions To Seek A Ghost a banda torna-se mais introspectiva e mais soturna. Ao segundo álbum os texanos, levantaram o pé e produzem um disco melancólico, tristonho e nostálgico, deixam de viver num mundo a preto e branco, para agora se passearem num universo com imensos cinzentos.
Directions To Seek A Ghost puro Neo-Psychadelia, vai ao encontro dos ambientes criados por Black Mountain mas sem a mestria de McBean, penso que o ideal será arrumar este trabalho de The Black Angels, na mesma prateleira de Black Rebel Motorcycle Club, são imensos os pontos de contacto entre as duas bandas, desde as semelhanças vocais, ao efeito repetitivo e circular resultante do permanente arrastar de toda a componente instrumental.
Com Directions To Seek A Ghost os The Black Angels, marcam uma direcção, mas não vincam nem deixam uma grande marca, penso que terá sido propositado, já que tudo soa a uma perfeita descontracção sonora, onde tudo é feito com suaves nuances e tranquilas fusões entre rock e os ambientes perfeitamente psicadélicos.

Momento Mágico: Never/Ever


The Black Angels - Directions To Seek A Ghost (2008) - Light In The Attic
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