2008/02/28

The Bird and The Bee

Dias de Verão

The Bird and The Bee é um grupo formado em 2006, no sul da Califórnia, pela cantora Inara George e pelo multi instrumentista Greg Kurstin, unidos no gosto comum pelo jazz e pelo tropicalismo começaram a trabalhar em 2006, ano em que publicam o seu EP de estreia Again and Again and Again and Again, que abriu caminho à edição em 2007 do disco de estreia The Bird and The Bee.
É um disco inspirado, ao qual já se seguiram dois EP’s, igualmente encorajadores, Please Clap Your Hands (2007) e One Too Many Hearts (2008) representativos da prolífera criatividade desta dupla.
Não posso deixar de transcrever a frase publicada pelo grupo na sua página do MySpace a respeito da forma como descrevem o seu som “A futuristic 1960's American film set in Brazil...”, com efeito a bossa nova, o jazz e a pop são os denominadores comuns ao longo dos dez temas, uma mistura inesperada que origina um disco repleto de melodias doces, dotado de múltiplas camadas sonoras, onde as vocalizações sincopadas de Inara George e a atmosfera opulenta anunciam a chegada do Verão.
Como é que eu descrevo este disco? The Bird and The Bee é um dia de Verão, em que o sol nos leva até à praia, é um mergulho numa onda refrescante, é sentir as gotas de água a escorrer no corpo, é uma brisa que alivia o calor escaldante, é a languidez de um pôr do sol estival.
Ficaram curiosos? Descubram este disco...

Momento Mágico
: I’m a Broken Heart


The Bird And The Bee - The Bird And The Bee (2007) -
Blue Note Records

2008/02/23

Maps

Renascer

O shoegaze volta e meia faz das suas e vai renascendo aqui e ali, de uma forma espontânea e natural, há um passado que não interessa esquecer e há ainda imensa gente a explorar as manias e manhas deste pop quase espacial. Os 90’s estão aqui a cada acorde, as guitarras em constante choro, as vozes sussurrantes, a bateria perfeitamente compassada, o uso das teclas como acompanhamento coral. O projecto etéreo de James Chapman, não esconde as suas influências e é com enorme facilidade que surgem no horizonte nomes como Spiritualized, My Bloody Valentine, Ride, The Stone Roses ou M83.
We Can Create consegue de uma forma simples, mostrar que é possível recriar sons passados, sem entrar em saudosismos idiotas, mesmo que para tal tenha de usar as mesmas regras e as mesmas fórmulas, porque no fim a única coisa que interessa é mesmo só a música.
Com Maps não precisamos de GPS, não estamos perdidos, apenas fazemos uma curta incursão nos anos 90, não há que ter vergonha do quanto o shoegaze soava bem, é verdade que os anos passam e tudo vai mudando, mas também é verdade que recordar é viver (onde é que eu já ouvi isto?)

Momento Mágico: It Will Find You


MapsWe Can Create (2007) - Mute

2008/02/17

Sean Riley & The Slowriders

Mississipi Lusitano

Coimbra tem sido terreno fértil a nível musical, nomes como Tédio Boys, Belle Chase Hotel, Wray Gunn, The Legendary Tigerman, Bunnyranch, etc, têm cimentado a importância desta cidade no panorama musical nacional. O último colectivo ao sair da penumbra coimbrã, disposto a procurar um lugar ao sol é Sean Riley & The Slowriders.
Farewell, o disco de estreia deste trio formado por Afonso Rodrigues, Bruno Simões e Filipe Costa, é uma amálgama de “folk/rock/blues” de altíssima qualidade, assente no talento de Afonso Rodrigues como compositor e no belíssimo trabalho de Filipe Costa (ex-Bunnyranch) nos teclados.
Com fortes raízes na música norte americana, Farewell tem muitos momentos altos e transborda maturidade e sinceridade por todos os poros. Canções como “Let The Good Times Roll”, “Moving On”, “Motorcycle Song”, “Lights Out”, “New Year’s Eve”, “Twenty Six Years” ou “Spider’s Blues” cativam à primeira audição e são belos exemplos da vitalidade desta banda.
Se o rio Mississipi tem cativado tantos artistas ao longo dos anos (de Johnny Cash a Led Zeppelin, passando por Randy Newman, Jeff Buckley e pelo tema intemporal Moon River da banda sonora do filme Breakfast at Tiffany’s), o rio Mondego começa a provocar o mesmo efeito em muitos músicos.
Uma estreia auspiciosa de um grupo a seguir com atenção.

Momento Mágico: Harry Rivers


Sean Riley & The Slowriders - Farewell (2007) - Norte Sul

2008/02/12

Sebastien Tellier

Sensualidade

O Sr. Sebastien Tellier é francês e amigo pessoal de Jean-Benoit Dunkel e de Nicolas Godin ou seja dos Air, com quem já andou em digressão, tendo inclusive feito a primeira parte de um concerto, que estes últimos em tempo deram em Lisboa. Para produzir este seu 4º trabalho, Tellier chamou um nome de peso da cena electro-dance francesa e mundial, Guy-Manuel de Homem-Christo (Daft Punk), o resultado é um disco que cruza imensas influências, desde da electrónica mais ambiental, ao electro-fuck ou até mesmo um pozinho da nova chanson francaise.
Para quem já conhece os excelentes anteriores trabalhos (L' Incroyable Verite – 2001 / Politics 2004 / Universe – 2006), já há muito notou que o principal tema abordado são as paixões mundanas e romântica perversão sexual francesa.
Tellier não encarna completamente o papel de crooner, no entanto consegue dar asas à sua condição de sonhador romântico e com isso consegue interpretar temas de uma forma intensa e concisa e isso é conseguido através de uma suave mutação, onde a electrónica de cariz inofensivo vai sendo moldada, em formato canção, ganhando ao longo dessa transformação corpo, consistência e contexto.
Sexuality é o que o próprio nome indica, um disco fortemente sensual, povoado de ninfas semi-nuas e meninas coquetes, é um pouco o renascer do ambiente criado por Gainbourg e Birkin, se bem que isentas de fumo e de camisas de caxemira.
Sexuality é primeira grande surpresa de 2008.

Momento Mágico: L'Amour Et La Violence


Sebastien Tellier
Sexuality (2008) – Lucky Number

2008/02/07

Vic Chesnutt

Folkrock

Vic Chesnutt teve um acidente aos 18 anos de idade e ficou o resto da vida agarrado a uma cadeira de rodas e é pouco depois disso que decide agarrar numa viola e dedicar o seu tempo ao folk. Com uma enorme força de vontade começa a compor musica e escrever canções, lançando o primeiro disco Little em 1990, daí para cá 11 albuns. North Star Desert é o primeiro trabalho pela Constellation e Chesnutt teve a participação de uma autentica parada de estrelas indie, a saber: Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra & Tra-La-La Band, Guy Picciotto (Fugazi), Howard Bilerman (Arcade Fire), Chad Jones & Nadia Moss (Frankie Sparo), Eric Craven & Genevieve Heistek (Hangedup), Bruce Cawdron (Godspeed You! Black Emperor,Esmerine) e T. Griffin (The Quavers), o resultado só podia ser um disco perfeito.
A voz de Vic Chesnutt é a principal arma deste novo trabalho, é fortemente peculiar, sonoramente calibrada e suficientemente afinada, de forma que tudo resulta num folk-rock intenso e luminoso, onde toda a parte instrumental encaixa como um puzzle.
North Star Desert é uma caixinha de surpresas: pode partir de uma ingénua e desconcertante melodia de dupla voz (Glossolalia); pode recorrer ao humor negro e altamente mordaz da sua escrita (You Are Never Alone); pode ser uma canção de alerta (Splendid); ou até pode ser pura perturbação psicótica, onde poderão nascer guitarras em pleno pranto (Debriefing ou Marathon).
Na musica de Chesnutt tudo é orgânico, natural e simples, não há espaços em branco, nem falta de luz, tudo flui de uma forma inata, como se o folk lhe corresse nas veias.

Momento Mágico: You Are Never Alone


Vic Chesnutt
North Star Desert (2007) - Constellation

2008/02/04

Bodies Of Water

Pop Vocal

A ressaca após Arcade Fire continua a dar resultados, são imensas as bandas que foram beber ao seu registo, para depois criar (uns melhor, outros nem por isso) o seu proprio estilo, apesar de usarem as mesmas cores, souberam pintaram com tonalidades mais ou menos intensas.
Os Bodies Of Water são californianos, o que atribui à banda e à grande maioria dos seus temas uma intensidade caracteristica, se bem que neste caso particular, não se deixem ficar presos a esse factor e partam à procura de paisagens mais frescas, mais naturais, algo fácil de alcançar para quem vive nessas paragens.
As referencias musicais da banda são imensas, para além dos mais do que obvios Arcade Fire, existem mais uns quantos nomes que vivem no mesmo hemisfério dos Bodies Of Water, estou a lembrar-me dos Polyphonic Spree pela sua eloquência ou mesmo uns The Go! Team pela vertente altamente festiva.
Ears Will Pop & Eyes Will Blink o primeiro trabalho, após um EP hómonimo onde já mostravam a sua garra. Abrir este novo disco “Our Friends Appear Like The Dawn” surge como um hino gospel, onde pairam vozes e vários instrumentos de sopro. “These Are The Eyes” é um vicio impressionante, agarra-se às entranhas do cerebro e faz-nos cantar e pular de felicidade como se não houvesse amanhã. Em “It Moves” existe uma pequena piscadela de olhos ao rock de uns White Stripes, terminando o tema numa enorme nostalgia coral. “I Guess I'll Forget The Sound, I Guess, I Guess” é um belíssimo tema, onde a paixão é cantada com todos os plumões. “Here Comes My Hand” é uma pequena guerrilha vocal entre os 4 elementos da banda, provando que a sua principal arma de guerra são as vozes.
Há uma componente gospel em quase todo o projecto, mas não ficaram a agarrados com correntes a essa vertente musical e ao libertarem-se dela conseguiram criar um universo pop verdadeiramente interessante, onde o bem estar e alegria em cantar transpira por todos os poros.

Momento Mágico: These Are The Eyes


Bodies Of WaterEars Will Pop & Eyes Will Blink (2007) - Secretly Canadian