2007/09/30

Lightning Dust

Sedução

Por vezes os projectos principais estão predestinados a transformarem-se na sombra de originais e grandiosos projectos paralelos. Oriundos de membros quiçá mais profícuos, acabam por perdurar e sobrepor-se àqueles. Assim é com este duo canadiano formado por Amber Webber e Joshua Wells saídos dos Black Mountain.
Lightning Dust é sadcore nos ambientes que ocupa e folk na base da melodia.
A primeira nota de abertura deste disco abre o pano de um cenário onde a peça apenas se vai desenrolar na nossa mente. As cenas seremos nós que as criaremos a partir do fluxo sensorial que Lightning Dust nos proporcionará durante uma viagem de pouco mais de trinta minutos.
Sonoridades sombrias colhidas na instrumentalização acústica de Wells, são preenchidas por tons âmbar da voz de Webber.
Todas as cenas são possíveis desde que iluminadas por fogo-fátuo. Soberbamente introspectivo e algo fantasmagórico, Lightning Dust embala em “Castles and Caves” e aterroriza em “Breath”. Um cavalinho de carrossel surge colorido em “Wind Me Up”, enquanto em “Jump In” as vozes de Wells e Webber literal e animadamente valsam para um piano carente de uma orquestra.
Pode ser deslumbrante ou misterioso, mas Lightning Dust seguramente seduzirá a quem ouvir.

Momento Mágico: Listened On


Lightning Dust - Lightning Dust (2007) - Jagjaguwar

2007/09/26

Map Of Africa

Eclético q.b.

Precisei de apoio (net) para escrever este texto, até porque foi ao inicio acreditar que todo o disco foi composto e produzido por um DJ. Não tenho a mínima intenção de diminuir as capacidades dos DJ’s, mas apenas constatar que este disco não soa aquilo que deveria soar.
É uma autêntica supresa que um tal de Harvey (DJ de nome artístico) tenha conseguido criar este disco, não o fez sozinho, o outro elemento dos Map Of Africa dá pelo nome de Bullock, ajudou na obra.
Juntos formaram os Map Of Africa e o resultado é altamente contagiante para um amante de rock e consegue esse objectivo logo nas primeiras audições.
Durante as muitas pesquisas, descobri que DJ Harvey é um DJ dos sete costados, um homem sobredotado a passar discos, com uma capacidade de por a rodar nos pratos tudo o que lhe aparecer à frente. Para Harvey não há limites, tudo é passível de integrar uma set list.
O resultado dessa enorme abertura de espírito, está à vista, um disco repleto de reflexos pop-rock, onde nomes com Springsteen (havendo alguma semelhança vocal) ou bandas com ZZ Top, passeiam em grande estilo e onde o post-punk e o krautrock andam de mãos dadas.
Harvey e Bullock são genais, “Bones” e “Smake Fingers” são puro rock, “Here Comes The Heads” é um mergulho num qualquer lago do interior americano, “Gone Ride” são as 500 milhas de Indianapolis, “Map Of Africa” é um convite Portishediano, um fim de tarde em Bristol, “Plastic Surgery” é um desacerto mental, é pura mutação, como ele afirma: “I was to be a person, but i turn into a version of my plastic surgery…”
Map Of Africa é o disco eclético do ano, sem qualquer espécie de duvida.

Momento Mágico
: Plastic Surgery


Map Of AfricaMap Of Africa (2007) - Whateverwewant

2007/09/22

Mick Harvey

O Homem dos Sete-Instrumentos

O multi-instrumentalista australiano Mick Harvey, é provavelmente mais popular pela sua participação nos Bad Seeds, nos quais foi guitarrista e baterista. Com Nick Cave (que conheceu na escola) formou ainda os The Boys Next Door e os Birthday Party no final da década de 70.
Após uma longa carreira nos Bad Seeds, inicia uma carreira a solo com dois álbuns tributo a Serge Gainsbourg Intoxicated Man (1995) e Pink Elephants (1997). Neste seu quarto álbum a solo Two of Diamonds, Harvey tenta mais uma vez sair da sombra de Nick Cave, mas fá-lo recorrendo novamente a versões. Além de um par de originais, o disco reúne sobretudo canções dos “The Saints”, PJ Harvey, Mano Chao, Die Haut, Emmylou Harris, David McComb e Bill Withers.
No entanto, em cada um dos temas que pede emprestado, Harvey revela o seu virtuosismo nos arranjos de semblante baladeiro, emocionais e apaixonados. Não há semelhança entre o original e a versão, quer pela voz em tom rockeiro mas suave, quer pela languidez blues das composições. Por isso Harvey é um genuíno songwriter, o seu cunho pessoal transforma cada original num cover original no seu estilo próprio.
Two Of Diamonds são um punhado de momentos gentis para nos acompanhar durante uma solitária noite de penosas lembranças de erros do passado e amores perdidos.

Momento Mágico: No Doubt


Mick Harvey - Two Of Diamonds (2007) - EMI

2007/09/18

E Já Passou Um Ano

Há um ano atrás, pressionado por alguns amigos com quem partilhava os prazeres da música, vi-me obrigado a criar este blog. Estava perfeitamente convencido que seria um projecto a prazo, mera brincadeira que passados alguns meses ficaria esquecida no éter da net.
No entanto a coisa foi ficando, com a colaboração de mais 3 amigos chegamos hoje ao fim do primeiro ano.
111 textos foram escritos. O amadorismo desde logo assumido não significa insensibilidade. Queremos ou tentamos mostrar a outros como nós, o que sentimos quando escutamos alguns dos muitos discos que por aí se fazem.
Posto isto resta-me como autor agradecer, ao Bruno pelas excelentes ideias gráficas e não só, ao Carlos pela sua escrita escorreita e legalmente bem composta e ao Edgar pela forma como desenha sentimentos com palavras.
A última palavra fica para vocês desse lado, a principal razão por que isto ganhou corpo e cresceu, enquanto houver visitas, continuaremos a escrever, a contar historias, a conversar…
Um imenso bem-haja.

2007/09/15

Editors

Um Novo Começo

Quando o disco de estreia atinge um determinado nível de aceitação comercial e crítica, o dilema inerente à edição do segundo disco é real e não constitui novidade para ninguém. Com The Back Room os Editors conseguiram combinar o reconhecimento comercial e o da crítica, pelo que a expectativa, em relação ao seu sucessor, era grande. An End Has A Start confirma a enorme qualidade da banda e transpõe, com todo o mérito, esse difícil obstáculo.
Sem renegar as suas origens musicais e a influência notória de bandas como os Joy Division e Echo & The Bunnymen, os Editors refinam a sua receita musical e aos já característicos riffs de baixo, guitarras sincopadas e à voz profunda e emocional de Tom Smith acrescentam doses q.b. de optimismo, afectuosidade e esperança, elementos inesperados que potenciam a grandiosidade da sua música. O resultado final é uma atmosfera menos ansiosa, por vezes agridoce, em que se consegue vislumbrar um raio de luz no meio da mais profunda escuridão.
Faixas como “Bones", “Smokers At the Hospital Doors” e “When Anger Shows” são excelentes exemplos desta nova atitude, com efeito, a utilização de sintetizadores confere-lhes uma dimensão épica, que pode elevar a banda a novos patamares de reconhecimento.
Outras canções, como “Push Your Head Towards the Air” e “Well Worn Hand”, arquitectadas em torno de um binómio piano/voz, são grandes na sua simplicidade e sinceridade, cativando à primeira audição.
Só resta acrescentar que se todo o fim tem um começo, espero ansiosamente pelo início do próximo capítulo na história da banda de Birmingham.

Momento Mágico: An End Has A Start


Editors - An End Has A Start (2007) - Fader Label

2007/09/11

120 days

Rock das Terras Frias

A convergência musical de muitas bandas, é criada muitas vezes, de uma forma subtil e repleta de truques (leia-se, produção feita em estúdio).
Os Noruegueses 120 days são um pouco assim, soam a milhentas coisas diferentes, podem parecer uns Spiritualized, abusam da distorção como os Jesus & Mary Chain, usam o mesmo efeito construtivo ou desconstrutivo (como cada um queira) de uns Suicide ou então são indolentes como uns Black Rebel Motorcycle Club.
120 days, é uma daquelas bandas que deveriam soar a cru, em que muito do som devia ser mais primitivo e mais básico, só que estas novas modernices e estes novos actos de laboratório, já muito raramente deixam o som sair puro. Hoje as mãos dos produtores - engenheiros de som, transformam e acrescentam novas sonoridades. Já não há lugar para espaços mortos, vazios, todo o espaço é ocupado e trabalhado com uma perfeição irrepreensível, tudo é primoroso e sem arestas.
Há pequenos passeios lunares em "Keep On Smiling", há perfeito pop-rock em "Be Mine", há divagações pelas frias e secas paisagens escadinavas "Sleepwalking" ou mesmo electrónica freak em "Sleepless Nights".
120 days é um disco de rock nostálgico, perfeito consoante o nosso estado de espírito ou a luminosidade do dia, não é arrebatador mas é bom companheiro.

Momento Mágico: Sleepwalking


120 days120 days (2007) - Vice Records

2007/09/07

Electrelane

Grandes Fêmeas

Um amigo meu chama-lhes: as “Senhoras Donas Gajas”. Realmente são Grandes estas fêmeas, chegam-nos de Brighton, Inglaterra, e dizem, por aí, que são lésbicas (não é que isso tenha algum mal!).
Neste Verão Paredes de Coura recebeu-as em glória (eu estava lá!) e elas corresponderam com aquele que para mim foi o melhor concerto do Festival. Na última Primavera já havíamos arrecadado o seu quarto álbum de originais No Shouts No Calls. Muito na linha do anterior, o Power Out de 2003 (onde o tema "On Parade” é o grande single) voltam novamente ao instrumental desorganizadamente organizado e vocalizações deliberadamente desafinadas.
É rock experimental elegante e sofisticado. Que encanta na simplicidade de abordagem musical, quase amadora. São mulheres mas não complicam, tocam com paixão e confiança, até são românticas. Riffs de guitarra, bateria musculada e um imparável órgão assinalam momentos harmónicos verdadeiramente enfáticos.
Hoje em dia o que não falta por aí são bandas da cena indie-rock e pós-rock, mas reconheço que durante este ano as quem mais me impressionaram foram as formações femininas, de que são exemplo as Au Revoir Simone, The Client e agora as eléctricas Electrelane.
Como tenho dito, “é um disco de se lhe tirar o chapéu”. Elas merecem essa cortesia.

Momento Mágico
: To The East

Electrelane - No Shouts No Calls (2007) - Too Pure / Beggars

Texto de Edgar Domingues

OUTRO PENSO por António Antunes

2007/09/04

Collective Soul

Novo Fôlego

Formados no inicio da década de 90 os Collective Soul foram, incorrectamente, associados ao fenómeno grunge que, na altura, atravessava o mundo. Na verdade, a banda liderada por Ed Roland nunca compartilhou o universo musical das bandas que lideraram este movimento musical e sempre se caracterizou por uma sonoridade pop/rock, polvilhada por alguns elementos característicos do hard rock e da música tradicional americana.
Se em determinada fase da sua carreira atravessaram tempos conturbados a nível de criação musical, como se pode comprovar em Blender o disco menos conseguido da sua discografia, os Collective Soul regressam em 2007 à “boa forma” com a edição de Afterwards, um disco coeso e enérgico que confirma os bons indicadores dados pelo antecessor Youth, e afastam, definitivamente, as dúvidas existentes acerca do futuro da banda.
A faixa de abertura "New Vibration", assente num poderoso riff de guitarra é a pedra de toque para um bom disco. Em Afterwards impera o rock, muitas vezes melódico, e canções como What Can I Give You, All That I Know, I Don’t Need Anymore Friends, Hollywood (single de apresentação) e Persuasion Of You confirmam uma banda com confiança renovada. Se a estes temas associarmos os momentos mais calmos e introspectivos como Bearing Witness, Good Morning After All, Georgia Girl e Adored, outra das suas imagens de marca, o resultado final é um disco que não desiludirá os fãs e confirma Ed Roland como um songwriter de excelência.

Momento Mágico: Bearing Witness


Collective Soul - Afterwards (2007) - Handleman Entertainment

2007/09/01

Black Moth Super Rainbow

Musicos do Arco-Iris

Dandelion Gum chega em 2007, após o falhado Lost Picking Flowers In The Woods e uma pequena pérola, a que ninguém (pronto, quase ninguém) deu atenção em 2004, de seu nome Start A People, e este novo registo aponta na direcção dos descontentes da carreira de Air, aqueles que esperavam que a carreira dos franceses apontasse em direcção à electrónica mais psicótica, mais depressiva (o que gostam de Air, vertente pop, esqueçam).
Electro minimal, psychadelic-pop, abuso de vocoder, visitas e encontros imediatos do 3º grau, se bem que aqui não surge um qualquer ET, mas sim figuras de estranhos contornos, algo entre fantasmas e figuras presentes, verdadeiras criaturas do limbo, personagens com corpo de Tangerine Dream ou Pink Floyd (em principio de carreira), cruzados com Air e com Boards Of Canadá ou seja uma perfeita criação de psych-rock perfeitamente contemporâneo.
Dandelion Gum é um disco acústico, cheio de ondulações orgânicas, onde a presença do LSD e do tetrahidrocanabinol é necessário para o arco-iris ter muito mais do que sete cores, de outra forma correríamos o risco de o ver a preto e branco.
A paleta multicolor dos Black Moth Super Rainbow é muito mais colorida que um arco-iris, é de facto um super arco-iris…

Momento Mágico: Melt Me


Black Moth Super Rainbow
Dandelion Gum (2007) - Graveface