2007/05/31

2007/05/27

Mother Mother

Chicken-Pop

O país da bandeira de folha caduca, produz bandas que, apesar de tudo, florescem atravessando as quatro estações sem capitular, de que são exemplo os Arcade Fire, Broken Social Scene, Metric, Júnior Boys, aos quais se juntam agora os Mother Mother, estranhíssimo quinteto oriundo de Vancouver.
A julgar por este seu primeiro disco, eu diria que é quase impossível associá-los a um género ou estilo musical predefinido. A ausência de limites, ou uma imensa originalidade na criação dos temas, faz com que percorram, folk, country, pop, alt-rock, jazz, hillbilly, tango, o que quiserem, conferindo uma inusitada versatilidade ao disco.
As letras excêntricas e rocambolescas, são interpretadas por um carismático triunvirato de vozes freaky, assistidas pelo arranjo acústico da guitarra que marca o ritmo de um comboio a vapor. A inovadora música dos Mother Mother, podia muito bem ser escolhida para uma fuga das galinhas ou uma guerra de capoeira, tal é a diversão e por vezes a propositada patetice a que soa.
O estilo cabaret e os coros luminosos de Ryan Guldemond, Molly Guldemond e de Debra-Jean Creelman, fazem deste disco uma refrescante e original limonada pop, a servir fresca em dias bem quentes.

Momento Mágico: Polynesia


Mother Mother - Touch Up (2007) - Last Gang Records

2007/05/24

Voxtrot

Vox-Pop

Logo no inicio da primavera mudam-nos a hora e ficamos com um ligeiro jet-leg de dificil adaptação, só ao fim de alguns dias e após algum esforço, voltamos ao normal ritmo de vida.
O primeiro trabalho de Voxtrot, provoca a mesma sensação, deixa-nos completamente espantados, desorientados e até desconfiados logo nas primeiras audições, só aqui a reacção é contrária, não queremos nem por nada voltar à nossa vida terrena.
Após 3 magnificos Ep’s (Mothers, Sisters, Daughters & Wives (2006); You Biggest Fan (2006) Raised By Wolfes (2006), surge o tão esperado (pelo menos por mim) primeiro album desta banda texana (Austin), liderada por Ramesh Srivastava, que é o principal mentor e motor da banda compondo e cantando todos os temas. A voz de Srivastana está na tonalidade de muitos outros vocalistas, poderia colocar aqui imensas comparações, mas desta vez não o vou fazer, vou limitar-me a dizer que é clara, nitida, leve e desconstraída.
O resultado de todos estes adjectivos é sublime, temas como “Kid Gloves” ou “Firecraker” são instantaneos e vivem dentro da gramatica pop, onde o predicado e o sujeito ocupam a sua correcta posição e onde nem sequer há lugar a adverbios de modo. “Easy” e “Blood Red Blood” são tardes de calor em dias frios de primavera. “Ghost” e “Brother In Conflict” chegam à mais escura das sombras e com um simples e recatado acorde de guitarra, transformam a noite em dia. Com “Future Part. 1” e “Every Day” prova-se que nem só de pão vive o homem, que é preciso algo mais que nos transforme em quase deuses.
Voxtrot é terrivelmente pop, é pop como deve ser, é uma manhã de sol, é uma bela mulher, é um descontrolado bater de pé, é um sorriso de criança, é um bem estar presente e permantente… é… é… é um forte candidato a melhor disco do ano.

Momento Mágico: Kid Gloves


Voxtrot
Voxtrot (2007) - Playlouderecord


OUTRO PENSO por Edgar Domingues

2007/05/21

The Rosebuds

"O Meu Castigo É Viver Sem Ti..."

Não pude deixar de traduzir este verso, presente na faixa "My Punishment For Fighting” do terceiro álbum dos The Rosebuds, uma vez que ele expressa na perfeição, o ambiente deste disco. Night Of The Furies vive, respira e transpira pop, brilhante, sonhadora, esperançosa, ocasionalmente sofredora, que sonoriza com mestria relacionamentos em que os desentendimentos e as diferenças são contrariados pela esperança indelével num futuro comum.
A classificação, por alguns, do seu som como “New Romantic” tem o seu fundamento na utilização omnipresente de sintetizadores e vozes etéreas, no prossecução da herança de bandas como os Pet Shop Boys, Roxy Music, New Order, etc., e traduz-se num som muito atractivo, não raras vezes cinemático.
É um disco coeso, bem sequenciado, que abre e fecha com as duas melhores canções do disco "My Punishment For Fighting" e, especialmente, “Night Of The Furies”, nesta não posso deixar de realçar o modo genial como é feita a descrição de alguém, bem na vida, atormentado por fantasmas do passado que o fazem vacilar (There's calm in these banquet years, so I tend to obsess about youth, before the guilt appeared. But I need to forget.").
Nos restantes temas percorre-se, de forma segura, um caminho ligado ao romance, aos seus mistérios, condicionantes e complicações, o que se pode confirmar, entre outros, em “Cemetary Lawns” (um casamento em ruínas), "When The Lights Went Dim" (uma herança inesperada e a angústia relacionada com o desaparecimento de um amor).
Numa só palavra, radioso.

Momento Mágico: Night Of The Furies


The Rosebuds - "
Night Of The Furies" - (2007) Merge

2007/05/18

Dirty Elegance

Unico

Quando a alma se desagrega do corpo, eterizada, enceta uma viagem psicotrópica ás profundezas da dimensão paralela, sons, timbres e vozes irrompem. Combinados entre si estes elementos projectam-se numa hipnose giratória. Não é musica é arte.
Dirty Elegance é inspiração levada ao extremo do engenho humano, aqui o termo complexidade assume outra compreensão. A música electrónica surge-nos como um círculo, desconhece-se onde começa e como pode acabar, pelo que ouvir Finding Beauty In The Wretched, não deveria provocar qualquer perturbação. Mas inevitavelmente provoca. Aliás, afecta-nos, a beleza impressiona, a harmonia seduz, o enigma sonda o ser, levando-o ao exterior sem abstrair do seu interior.
Este disco não vive somente no trip-hop ambiente, habita algures entre Massive Attack e Portishead, encaixado bem fundo nos Sigur Rós e The Album Leaf, é, se assim se pode designar, electrónica experimental. Álbum para pessoas que questionam a existência humana a realidade envolvente, que ousam olhar além da miséria quotidiana que nos rodeia. O individuo em busca do sonho, cuja premissa é dar expressão autêntica ás suas aspirações, descobre neste disco o seu númen.
Único para seres únicos.

Momento Mágico: Wirrok


Dirty Elegance - Finding Beauty In The Wretched (2007)

2007/05/15

Electrelane

Srªs. Donas Gajas

A clareza de ideias, é um dos mandamentos destas meninas, outro poderia ser a simplicidade e outro ainda a eficácia. Há algo de primário na forma como se constrói/destrói os temas, como se fabrica uma música, tome-se como referencia Emma Gaze (bateria) ou as repetitivas e constantes marteladas nas teclas provocadas por Verity Susman (teclas/guitarra), fica no ar a duvida se tudo isto acontece naturalmente ou se é propositado.
Com No Shouts, No Calls as Electrelane atingem o 4º capítulo da sua (ainda curta) vida artística e surge após o álbum Axes (aquele que eu considero, um dos melhores álbuns dos últimos 37 anos). Se Axes tem a enorme particularidade de ter sido gravado numa única take e com isso ter conferido uma marca indiscutível no universo musical, No Shouts, No Calls é um “álbum de canções” (o que não deixa de ser caricato). O formato canção não existe, no universo Electrelaniano, o que existe isso sim são composições electro-rock, onde as regras não são regras, onde o sinal vermelho significa acelerar e ninguém pára no STOP.
E é assim desta forma subtil e pseudo-calma, que constrói um perfeito álbum rock, “To The East” (o single) descobre uma vocalista em desassossego, como se lhe estive a faltar o ar e a pedir socorro permanentemente. “Tram 21” é krautrock made in 00’s, a composição louca e falta de normalidade é o principal sintoma de demência. O carrossel mágico de “At Sea” é uma tempestade de teclas, são coros de vozes em disfunção…
Um banda perfeita, com temas perfeitos, dentro de um álbum perfeito… se existir alguma imperfeição a culpa é nossa.

Momento Mágico: At Sea


Electrelane
No Shouts, No Calls (2007) - Too Pure / Beggars

2007/05/12

Azevedo Silva

Arte Livre

"Tartaruga! Por uma arte livre.", frase do próprio artista, que se pode ler no seu myspace, reflecte, a meu ver, o que de um músico se espera: a liberdade de criação musical sem quaisquer constrangimentos económicos. Esta atitude assumida em Tartaruga e cada vez mais rara nos tempos que correm, faz deste disco um trabalho absolutamente louvável no panorama musical luso.Mas não é apenas pelo facto de este segundo disco de Azevedo Silva (o primeiro foi o EP Clarabóia) se encontrar disponível gratuitamente, em http://www.virb.com/azevedosilva, que o torna louvável.
O seu mérito reside particularmente na capacidade de imediatamente cativar o mais negligente ouvinte português, quer pelo dedilhar da guitarra acústica, a lembrar o saudoso Zeca Afonso, quer pelas elementares letras, palavras austeras e realistas, que soam como pungentes acoites na consciência, de que é exemplo “Abutres” o quarto tema: “Anda, vem cá ver um exemplo do uso do verbo mandar. Olha, sai ao papá, cabrão do menino. Também bate na mãe? Talvez seja o destino”.
É música simples mas a simplicidade não belisca a intensa mensagem que envia a todos nós. Vale a pena reflectir sobre as emoções que brotam das suas letras. Tartaruga é até à data o mais singular e bem concebido disco português produzido em 2007.

Momento Mágico: Liberdade


Azevedo SilvaTartaruga (2007) – Lástima
http://www.virb.com/azevedosilva

OUTRO PENSO por António Antunes

2007/05/06

Blackfield

Melancolia pop rock

De regresso em 2007, com o álbum Blackfield II, o projecto liderado por Steve Wilson (dos Porcupine Tree) e pelo cantor israelita Aviv Geffen oferece-nos um disco decididamente “pop rock”, no qual as vozes (uma vez que as funções de vocalista são repartidas), as guitarras e os arranjos da secção de cordas originam dez bonitas canções, harmoniosas, melancólicas e um pouco mais experimentais do que o normal neste tipo de sonoridade.
Muito embora Steve Wilson pareça adoptar um papel de destaque como performer, para além da sua faceta de compositor patente em três canções, não se pode descurar o contributo de Aviv Geffen para esta obra, especialmente porque assume a composição de metade das faixas presentes neste disco.
Resulta desta simbiose criativa um belo disco “pop rock”, dinâmico, complexo quanto baste, bem produzido no qual a secção de cordas é o meio, preferencial, para atingir o estado de espírito pretendido pela banda. As músicas que melhor ilustram essa coerência musical e criativa são “1,000 People”, “Christenings” “Epidemic” e “My Gift Of Silence”.
Dir-se-á que é o disco ideal para ouvir enquanto assistimos ao pôr-do-sol numa praia, agora que o calor começa a aumentar e com ele uma maior languidez.

Momento mágico: Epidemic


Blackfield - Blackfield II (2007) - Atlantic

2007/05/01

Parts & Labor

Desconstruções

Numa época em que quase todas as bandas, parecem formatadas e disformadas da mesma forma, onde todas ou quase todas usam as mesmas regras e os mesmos princípios, lá surge uma que se evidência pela sua desconstrução sonora, pela destruição do senso comum musical.
Urgência provocada pela necessidade da explosão sonora, é um marco nos Parts & Labor, já no anterior trabalho Stay Afraid (2006) o constante uso do ruído e da permanente paranóia eléctrica, iam transmitindo ao ouvinte um adorável nó no estômago. Com Mapmaker, continua a hostilidade e agressividade do noise, só que com uma tendência mais linear, não surge a opção do ruído pelo ruído, a opção tomada é consciente e mantida a todo o custo e aqui e ali quase que nasce o primeiro hino noise. Mapmaker é um disco circular e não estou a fazer analogia, é mesmo redondo e é curto o espaço onde se desenrola toda a acção desta banda, não existem espectros nem espelhos, apenas instrumentos e colunas de som, depois basta colocar tudo no volume máximo e aí viajamos nós nos picos dos decibéis.
Melhor que tentar explicar a eficácia da coisa, é ouvir Mapmaker, logo na abertura do álbum “Fractured Skies” como o próprio nome indica uma fractura provocada por uma pancada sónica de alta velocidade, surgida não sabe bem de onde nem como. “Unexplosions” é uma implosão com imenso ruído e cheia de pó. Com “Fake Rain“ surge a canção-noise, o que poderá parecer estranho mas não o é.
Mapmaker é um GPS, para quem acha que o mundo do noise-rock é para pessoas sem sentido de orientação.

Momento Mágico: Unexplosions


Parts & LaborMapmaker (2007) – Jagjaguwar