2007/02/27

The Shins

Cai o nevoeiro

Os The Shins demonstram, no seu novo disco Wincing The Night Away, que sabem conviver com o sucesso, não se intimidaram com o sucesso e evitam as armadilhas recorrentes, resultantes dessa maior exposição mediática.
Efectivamente este é, sem qualquer dúvida, o melhor disco dos The Shins, a banda evoluiu, amadureceu, evitou os sempre cómodos clichés e cria um belo disco, com várias camadas, no qual predomina um ambiente pesado e misterioso, um pouco como um dia de nevoeiro onde a qualquer momento algo de inesperado pode acontecer, aspecto em que difere bastante dos seus antecessores Oh, Inverted World e Chutes Too Narrow, trabalhos, essencialmente, optimistas e eufóricos.
O novo disco aponta para novas direcções, sem comprometer o espírito indie pop, que os caracteriza, tendo como ponto de partida o que haviam feito em trabalhos anteriores, amplificam os mesmos, a banda está mais versátil e revela canções que, de forma furtiva, se instalam permanentemente no nosso ouvido.
Com este disco, os The Shins provam que são uma verdadeira banda, ao invés de funcionarem como veículo para o seu compositor principal James Mercer, este é um dos discos pop-rock do ano, cheio de grandes canções, que nos prende a cada audição e nos compele a activar o “repeat” no leitor de mp3.

Momento Mágico: Phantom Limb


The Shins - "Wincing The Night Away" (2007) - Sub Pop

2007/02/23

Giardini Di Mirò

Anjos-Negros

Post-rock vindo de Itália é à partida uma coisa estranhíssima, aliás, nem sequer combina (isto na teoria, é claro), porque ouvindo com atenção, se há algo que esta banda de Reggio Emilia conseguiu assimilar e dominar é a construção musical tão tipica de algum do post-rock. Digo algum, porque o que eles agarraram foi à parte romântica, a parte dramática, o ser teatral que vive algures na noite sem luar e onde apenas um pequeno candelabro ilumina a fronteira entre o real e o mundo das sombras.
Giardini Di Mirò são uma dessas bandas, que nos deixam com a estranha sensação, que estamos todos presos, algemados e que a nossa liberdade está iminente, mas que apesar de prevermos a qualquer instante a chegada do justiceiro, ele tarda em chegar. Há como que uma quase liberdade, é como se sentíssemos que nos vão nascer umas asas… umas asas de arcanjo.
Musicalmente muito evoluídos (uma grande voz e um poderoso baixista), Giardini Di Mirò contam com algumas colaborações neste seu novo trabalho e se de inicio podem parecer estranhas, o resultado final é soberbo, é o caso de “Cold Perfection” onde a mão do mago da eletrônica Apparat dá a um toque de profunda imensidão ou ainda “Clairvoyance” com a excelente colaboração de Cyne.
Dividing Opinions irá mesmo dividir opiniões, haverá quem irá gostar muito e quem achar o disco uma banalidade… fica ao critério de cada um.

Momento Mágico: Broken By


Giardini Di Mirò
– “Dividing Opinions” (2007) - Homesleep

2007/02/20

Andrew Bird

O Homem-Passáro

Conta a historia, que ao tocar uma flauta (que era mágica), os ratos seguiram até ao fim da cidade o tocador, livrando assim a cidade da peste. Ora Andrew Bird, consegue com o seu aprumado assobio (que é mágico) fazer a mesma coisa comigo, sigo-o hipnotizado e segui-lo-ei até ao infinito.
Ao 7º disco de originais, o ex-Squirrel Nut Zippers prova que o anterior álbum (The Mysterious Production of Eggs) não foi obra do acaso, mas sim o resultado de uma coisa óbvia, este homem não sabe fazer álbuns maus. Para este one-man-band, a criação musical é uma coisa sábia e natural e se em muitos de nós, existe uma tendência (quase natural) de esquecer bandas/músicos após um excelente disco, neste caso particular não o devemos fazer, nem agora, nem para o que vier no futuro.
Com ajuda de almas preciosas (Dosh e Haley Bonar) Armchair Apocrypha é uma colecção incrível de canções. “Fiery Crash” tem um início intensamente calmo, com “Heretics” atinge-se um enorme bem-estar, “Armchairs” é um tema verdadeiramente belo, cheio de pequenos recantos encantados. Neste novo disco, existe uma maior aproximação ou mesmo uma continuação (como preferirem) ao anterior álbum, do que ao seu passado recente (Weather Systems). Existe um continuar a contar histórias, não há quebra, não há um romper brusco com o passado e o mais interessante disto, é que após várias “escutadelas”, esta óptima sensação continua.
Terá mais episódios, este filme?

Momento Mágico: Armchairs


Andrew Bird
– “Armchair Apocrypha” (2007) – Fat Possum

2007/02/17

2 Many DJ's (DJ Set)

COIMBRA - VIA LATINA - 2007/02/16
(esqueci a máquina em casa)

2007/02/16

Tom Waits

Filhos Bastardos

Fato escuro e chapéu preto marcam o estilo excêntrico deste verdadeiro senhor da poesia cantada. Há mais de 30 anos que escreve, compõe e canta as suas próprias criações. Dono de um género musical frequentemente indefinível, é a voz cavernosa de Thomas Alan Waits que lhe confere carisma e individualidade. Entre uma garrafa de whisky e uma fumaça, num canto mal iluminado de um pestilento bar, resulta inevitavelmente música e poesia, rock ou blues ou outra coisa qualquer.
O seu último disco, são os filhos rejeitados de uma vida inteira dedicada à música. Mais de 50 canções, das quais a maioria é inédita, retiradas do fundo de um poeirento baú, órfãs de uma merecida edição onde pudessem ter sido incluídas. Agora Waits entrega-as finalmente á adopção. Dividido em três cd’s, Brawlers, é a reunião do blues enegrecido e do rock’n roll. Bawlers contém etílicas baladas e temas em piano, enquanto que Bastards, o mais misterioso e sui generis do conjunto, reflecte o lado experimental e cinematográfico do autor.
Orphans é a história revelada, de um homem a quem um dia ousaram vaiar. Em boa e a más horas a escutamos.
Obrigado Tom.

Momento Mágico: Long Way Home


Tom Waits
– “Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards” (2006) - Anti


OUTRO PENSO por António Antunes

2007/02/12

Sunset Rubdown

Por de Sol

A forma desesperada como canta, o sentimento com que o faz, a quase loucura que incute, o doce veneno que imana dos (vários) dedos, a formula perfeita de composição, fazem destes canadianos uma banda de audição obrigatória, passar ao lado deste disco, é perder um melhores discos de 2006.
A entoação demente que Spencer Krug dá à sua voz, mas também a grande qualidade dos arranjos instrumentais dos restantes elementos da banda (Jordan Robson Cramer, Michael Doerksen e Camilla Wynne Ingr), tudo estes factores completam-se e quando isso acontece surge um disco cheio de vitalidade e conforto.
No Lo-Fi construído por Spencer Krug, habitam seres estranhos (David Byrn, David Bowie ou Win Butler), a forma como se entrega, a execução quase psiquiátrica de cada um dos temas, a loucura cinzenta e cerebral, o equilíbrio perfeito entre o mundo real e o catatonico, a procura do desespero, o gritar “estou aqui, olhem para mim.”
Provavelmente o disco, mais injustiçado (esquecido) de 2006.

Momento Mágico: The Empty Threats Of Little Lord


Sunset Rubdown
– “Shut Up I Am Dreaming” (2006) - Absolutely Kosher

2007/02/09

The Earlies

Vozes soltas

Quando nos finais de 2004 tropecei no maravilhoso primeiro álbum desta banda These Were The Earlies fiquei estupefacto, logo foi com grande entusiasmo que ouvi o novo registo The Enemy Chorus. Este novo titulo, não tem eficiência imediata do primeiro álbum, mas tem força suficiente para produzir efeitos a longo prazo, tudo depende do tempo dispendido (cada vez isto, tem mais razão de ser).
A combinação mágica das vocalizações e de toda a ambiência criada, faz dos Earlies, uma banda sofisticada, onde a combinação vozes/música surge com naturalidade e cheia de garra. The Earlies são uma jovem banda e com uma particularidade interessante, meia banda vive no Texas (Brandon Carr e J. M. Lapham) e a outra metade reside em Inglaterra (Christian Madden e Gilles Hatton), esta separação geográfica irá reflectir-se na criação da sua musica, não só pelo factor distância, mas fundamentalmente pela forma como são influenciados, no meio musical onde cada par está inserido.
Hipnótica, psicadélica, colorida, são algumas das formas com a qual podemos adjectivar esta banda, mas não se pense que estamos perante uma banda de gente estranha, a fazer musica para meia dúzia de intelectuais, o resultado final é musica é indie-rock de simples compreensão, onde cabem os Mercury Rev ou os Polyphonic Spree.

Momento Mágico: Bad Is As Bad Does


The EarliesThe Enemy Chorus(2007) – Secretly Canadian


X-Wife (Concerto)

COIMBRA - AR DE RATO - 2007/02/08





2007/02/06

Phoenix

Revolução silenciosa

Os Phoenix, banda francesa formada nos arredores de Paris, chamaram a atenção de muita gente, quando a música “Too Young” foi incluída na banda sonora do filme “Lost In Translation”, da realizadora Sofia Coppola.
Em It´s Never Been Like That, o terceiro da sua discografia, os Phoenix decidiram reformar o seu som, uma estranha fusão “rock”, “disco” e “pop”, que imperava no seu disco de estreia United e no seu sucessor Alphabetical, em detrimento de uma sonoridade assumidamente “pop/rock”.
Esse desejo de mudança fez com que os sintetizadores fossem substituídos por guitarras em despique, criando uma sonoridade que evoca bandas como os The Kooks, os Razorlight ou o até mesmo o primeiro disco dos The Strokes, sem comprometer o espírito “indie pop”, que sempre os caracterizou.
O resultado é o melhor disco das suas carreiras, um claro e decidido salto em frente, os Phoenix finalmente descobriram como criar canções vibrantes, modernas, inteligentes, descontraídas e “upbeat”, que podemos desfrutar descomplexadamente, num dia solarengo à beira mar.

Momento Mágico: Second To None

Phoenix - "It's Never Been Like That" (2006) - Astralwerks

2007/02/03

Mojave 3

Aquecer os dias frios

Puro pop, gracioso, brincalhão, fresco e de uma beleza campesina, são as notas predominantes deste quinto disco dos Mojave 3. São 12 canções cativantes, que inevitavelmente nos fazem sorrir e paradoxalmente choramingar de alegria.
A boa disposição toma-nos quando escutamos temas como “Truck-Driving Man”, “Puzzles Like You”, “Breaking The Ice”, “Running With Your Eyes Closed”, “Ghostship Waiting”, “Kill The Lights” (aliás estas duas ultimas muito semelhantes) ou “To Hold Your Tiny Toes”.
As próprias baladas, “Most Days”, “Big Star Baby”, “You'Ve Said It Before” ou “The Mutineer”, são espontâneas, aquém de qualquer ambiente mais misantropo. É um álbum que no seu conjunto, denúncia um alto astral da banda, percebendo-se que longe vão os tempos da taciturnidade dos primeiros trabalhos como “Ask me Tomorrow” ou “Escuse For Travelers”.
As guitarras pop marcam um ritmo acelerado, incitando ao bater das palmas. Mas a atenção, que o pop/rock de Neil Halstead (líder da banda) não deve ser associado ao comercial, estando antes bem próximo do indie/alternativo, não deixando no entanto de ser despretensioso.
Lançado no Verão passado, passa lindamente nos dias soalheiros de Inverno.

Momento Mágico: Breaking The Ice

Mojave 3
- "Puzzles Like You" (2006) - 4AD